Aquele seria mais um ato contra a mulher. Ela fora acusada. Perseguida. Tinha sido publicamente assediada. E agora corria risco de morte. Segundo a lei dos judeus, ela seria mais uma vítima da intolerância. Até que ser arrastada entre uma rua e outra, a turba enfurecida a leva e a põe diante de um certo carpinteiro de Nazaré. (São Lucas capítulo 7. 36 a 50).
A passagem é registrada nos Evangelhos. A vítima é mulher. Mulher como centenas de milhares de outras que sofrem com preconceito, violência e descriminação. As mulheres sofrem em sua individualidade. Endêmica, a violência contra a elas é registrada nas ruas, nas postagens, em vídeo difícil de assistir, na vida cotidiana, na tela do Fantástico, que conta a incidência de casos que ferem a consciência de todos e de todas. É um marido, um brutamonte, companheiro que se torna agressor. É um policial que entra revoltado na sanduicheira e agride a proprietária, é o terror de assassinatos que se tornam rotineiros. São 5 mil sentenças por feminicídio. Desde que se criou esse novo tipo penal pela Lei 13.104 de 2015. A cada minuto, 9 mulheres são agredidas no país. 13 assassinadas por dia no Brasil.
Em meio a isso, vale inquerir qual seria a resposta da igreja cristã a essa violência doméstica e pública contra a mulher? O cristianismo de amor ao próximo, na empatia de que todos que são convidados e convocados considerar o outro, pode, sim, oferecer caminhos à situação degradante porque vivem a mulher em nosso país.
Consideremos que poucas religiões do mundo conseguiram elava a condição social da mulher como o cristianismo. Esse em sua essência difere das outras grandes religiões monoteístas, como o judaísmo e o islamismo. Na lei dos judeus a mulher é relegada a condição de administrado do lar e tão somente isso, tal preceito é insculpido no Talmud. Já no Islã, a mulher se restringe a procriar filhos e servir ao marido. Em países de tradição islâmica, a Lei da Sharia condena a mulher de exercer função pública, de sair de casa desacompanhada da figura masculina e de ser punida até com a morte em caso de discordância para com os costumes, ritos e até vestuário.
Mesmo que a tradição cristã não sirva por si só para deter as ações de desrespeito à mulher, isso seria mitigado se houvesse a promoção de uma melhor base de educacional em princípios bíblicos. O desrespeito a mulher emerge das estatísticas mas há causa mais profundas que precisam ser avaliadas. A condição aviltante da exploração da mulher perpassa a tela da televisão, está incrustada nas novelas, na exploração sexual, no tráfico internacional de mulheres; é intensificada quando se promove a coisificação do corpo feminino como objeto de desejo, na exploração e no aviltamento à dignidade da mulher. Isso tem que acabar.
A igreja cristã pode sim oferecer não apenas uma alternativa mas um caminho sólido de reconstrução da condição da mulher. Isso perpassa a visão de mundo onde o outro é respeitado, sem qualquer acepção. Nos ensinos de Jesus, ele acudiu os necessitados. Ele acolheu os oprimidos. Abraçou os desvalidos. Amou os injustiçados. A mulher – vitima, foi em seu julgado totalmente absolvida, muito embora para alguns existisse prova de seu ato delituoso, ele confrontou os legalistas e fariseus, porque todos tinham seus pecados. Ele deu-nos exemplo de como respeitar a condição da mulher. “Mulher, nem eu te condeno, vai em paz e não peques mais”. As igrejas cristãs, ao promoverem maior conscientização sobre o papel da mulher na sociedade, ao estimularem educação no lar, ao acolher as que são vítimas, ao exortar os homens a consideração e ao respeito para com a companheira e adjutora, (Efésio 5.25), contribuirão decisivamente no seu papel histórico, social e espiritual na defesa da mulher. Assim se espera.
Artigo: Silvio Menezes