São quatro mil e quinhentos jovens que perderam a vida no RN. A mórbida estatística é o perfil de uma sociedade que perdeu o bonde da história. Entre 2015 a 2018 o aumento é de 12% ao ano. Mantendo uma média diária de 3.12 homicídios. Lamentável.
Esses jovens têm rostos. São de famílias servidas pela alimentação governamental, do bolsa escola que não torna ninguém independente nem emancipado. São gerados em famílias em sua maior parte desestruturadas. Não estão nas atividades recreativas do colégio, porque já abandonaram a instituição. Aquela evasão escolar explica e muito a razão dessa triste realidade. Os que sonharam cedo largam o sonho de ser engenheiro, médico, trabalhar de carteira assinada. Eles saem na aventura das esquinas infectadas pela droga. Tem seus sonhos desnorteados. Não possuem referenciais.
Neste contexto bélico esses jovens pertencem a uma geração que não entra para as estatísticas da população economicamente ativa. 63% dos jovens mortos não tinham atividade renumerada. Nem trabalho, nem estudam. E poderíamos acrescentar que nem estão nos campos e nas quadras esportivas. Eis o maior desperdício. São talentos roubados, carreiras destruídas no nascedouro, um raro DNA que não se aproveita porque morre na esquina vítima de balas e acertos entre quadrilhas.
Quando os jovens não têm mais perspectivas, são atraídos pelo delírio de um mundo falseado pelo tráfico, na aquisição temporária de um tênis de marca, ou em segundos da consumação das drogas Alguns ainda são atraídos pelas igrejas e conseguem soerguer-se, outros, no entanto, são alvo de acertos diário das drogas. O tráfico os atraem porque é esse falso glamour midiático que os fascinam. Na apologia as drogas Ilícitas ou no retrato de personagens que se “safam” do mundo do crime, da máfia e das facções. Mas o preço que pagam é altíssimo. As mães são as que ainda conservam a memória dessas vidas prematuramente ceifadas. Vez que nos inquéritos policiais mal resolvidos, logo desvanecem a lembrança das vítimas da impunidade.
É lógico que esses jovens entram para o crime sendo arrastados por suas vontades e por isso deveriam responder nos limites da lei. A maioridade penal, esculpida nos termos de uma legislação frágil contribui para a impunidade. Aos 13 ou 14 anos o adolescente deve ser responsabilizado por seus atos. Deformidade como essa está presente no ECA, cantilena dos direitos que precisa de uma revisão. A ideia de que “são vítimas da sociedade” é mero pretexto para ocultar a responsabilidade dos entes envolvidos. O governo é o responsável direto porque não garante a educação de qualidade. O judiciário é responsável porque no emaranhado burocrático não consegue dar a resposta necessária.
Os políticos são responsáveis quando abocanham verbas que deveriam garantir melhor ensino. Quando desviam verbas que seriam aplicadas aos esportes. A responsabilidade tem paternidade.
Quando se ouve um político afirmando que tudo se resolve com “políticas públicas” é preciso redobrar a atenção. É um jargão que eles usam para convencer que tudo vai continuar como antes. A escola tem que integrar os jovens. Eles precisam passar o dia todo. É na profissionalização desses jovens que algo pode mudar. A retórica dos políticos é inservível. Agir é verbo de movimento. Agir é garantir empregos, inclusão digital, livros, um sonho para sonhar, uma farda para vestir. Os jovens do RN precisam sair de casa com o roteiro de vida em perspectiva. Assim, o lamento de milhares de famílias seria transformado em júbilo de uma esperança concreta de toda uma geração.