Se não é algo inédito está perto se ser. Com dois presidentes presos o Brasil confirma a tendência é ser o país das excentricidades. Cada dia o povo se convence que certas coisas só correm aqui. Ainda mais agora quando vai se tornando um hábito o brasileiro se deparar com a notícia de que mais um figurão da política nacional foi enquadrado pela Polícia Federal. Tais fatos já tão corriqueiros não causam mais espantos. Talvez em lugar nenhum do mundo tenhamos tantos governadores de uma província, como a carioca, encarcerados por desvios de dinheiros público e desmandos. A república da jabuticaba é aqui.
No horizonte, há esperança de que o sol da moralidade finalmente apareça, principalmente depois de dias e dias tenebrosos. Será que os políticos de tanto acompanharem o noticiário não lhes acenda o senso de sobrevivência e parem, de uma vez por todas de confundir o erário do povo como um banquete a céu aberto? E que todos eles finalmente deixem de se esbaldar na corrupção no intento maligno de minar as bases de uma sociedade que seria mais igualitária se respeitasse o bem comum. O tempo dirá. Porém, o que não pode aprisionar o sentimento popular são os experimentos do passado nem tanto longínquo que, como fantasma, volta e meia querem assombrar o povo.
É o caso da cantilena nesses dias de encarceramento de mais um presidente, em que saudosistas insistem em buscar a velha pauta do parlamentarismo. Vez por outra, alguém aparece dizendo que os presidentes não cumprem seu papel de estadistas, por se tornarem refém das manobras do Congresso. Já se ouve nesse alvorecer do governo Bolsonaro que o presidente terá muitas dificuldades para implantar as reformas políticas, tais como a da previdência, porque será uma luta inglória diante dos interesses de bancadas opositoras. E que se aqui houvesse o parlamentarismo tudo seria mais fácil. Será?
Desta forma, o acirramento do embate entre o Congresso e o governo Jair Bolsonaro reavivou a discussão sobre a implantação do parlamentarismo no Brasil. Deputados veteranos dizem que os recentes episódios confirmam a tese de que o modelo presidencialista se esgotou e não atende mais às demandas do país. Afirmam, no entanto, que não dá para “trocar a roda com o carro andando”. A ideia é debater uma mudança de regime político que passe a valer a partir de 2022, com o fim da atual gestão.
Contudo, é preciso atentar que ainda o país passa por um processo de restruturação moral que demanda muito mais tempo. Se em elevados centros a Lava Jato tem esse poder de inibir condutas delitivas, resta saber se em base menor como os municípios, os políticos deixarão de lado velhas práticas e se comportarão como espera o cidadão e os órgãos do poder judiciário.
Ao menos, as prisões do ex-presidentes estão aí para demonstrar que ninguém está a cima da lei. E que alguma coisa vai mudando. Não se vive o melhor dois mundos, mas pedagogicamente, a cada abatimento de esquemas de ladroagem, a vida do cidadão segue mesmo com dos desafios diários, diferentes daqueles que chegam ao apogeu do poder, mas que de uma hora para outra caem diante de falsos pedestais de cera. É de se esperar. O país caminha segundo as atuais regras e isto vale para todos inclusive para o atual presidente.
Por Silvio Menezes