O pensamento dialético, base de uma conjuntura que acolhe os contrários, já preconizava que tese e antítese seriam perfeitamente reconciliáveis se neles houvesse quem estivesse disposto a mediar uma boa síntese, mesmo que brotasse do terreno dos argumentos ou proposições e ainda que nascida de extremos antagônicos. Mas a julgar pela miríade de postagens, discursos e falas nos últimos dias, a sociedade brasileira está mesmo à deriva, posto que as contendas na política e fora dela norteiam as ações dos indivíduos, afastando daquilo que se chama consenso.
É um apartheid social como nunca se viu. Oposição promete escaramuças contra o governo, governo promete fazer girar o artefato bélico se houver a obstrução de suas iniciativas; nas ruas as cores da bandeira são desafiadas pelo vermelho de inspiração marxista, nas universidade alunos são taxados de alienados se forem defensores do governo e professores fazem das cátedras o ringue de seus discursos pró-esquerda. Sem falar nas plataformas digitais, campo fértil para todo tipo de inquietação social, onde o anonimato e as fake news permeiam todo tipo de insultos, inverdades, achincalhamentos, desaforos, remorsos incontidos, disparates e antagonismos, raivas e a contenda generalizada. O outro, no país do insulto, é considerado ameaça e há aqueles que se pudessem partiam para o aniquilamento.
Neste pais de extremos e de pensamento antagônico os pacificadores, aqueles que cumpre seu dever cívico e toda segunda feria se lançam na jornada de trabalho e empreendem na luta pela sobrevivência, do pequeno ao grande empresários, encontram-se numa temeridade de que aqui se torne a próxima Venezuela, em que de um lado estão os que morrem de amor pelas benesses do governo Maduro e outros os que sonham em libertar a pátria do tirano ensandecido.
Mas que papel caberia aos pacificadores? Pode-se dizer, sobretudo, no respeito à democracia, na esperança de que entre os governados e governantes o bem comum prevalece a despeito das escaramuças do dia a dia ou das decisões do STF. É nesse sentido que reside a governabilidade, na esteira coletividade, de um todo que parece tão distante, tamanho o fosso que separa os de pensamentos antagônicos, aqueles que em seus radicalismos querem o mal maior. Os tais, de ambos os lados, parecem que querem transformar o país numa praça de guerra, em que o redemoinho da grita geral e a sandice da desgraça coletiva faça tudo explodir e o povo pague por suas escolhas.
Contudo, as pessoas de bem, o cidadão responsável, que paga seus impostos, aqueles que desejam a sobrevivência com dignidade conquanto o Estado cumpra seu dever, que os políticos berrem menos e façam mais em prol dos excluídos, que o pais cumpra uma agenda de compromissos para com à legalidade, moralidade e transparência, que haja as reformas estruturantes e que todos saiam ganhando. A barbárie sonhada por alguns não serve para os que buscam a paz. Os pacificadores formam a rede de solidariedade dos voluntários, das entidades não governamentais que buscam mitigar a pobreza e a marginalidade; são as igrejas, as pastorais, os que oram que a nação seja sarada, são agentes do bem, no anonimato dos orfanatos, estão lá favelas a alimentar os moradores de rua, são os que ajudam os encarcerados, são os que repartem o pão aos famintos, os que acolhem os doentes nas unidades de saúde, no centro de recuperação para drogados, são os que estão a ensinar, pelo exemplo, que semear a paz é a melhor via para a construção da cidadania e de um país em que haja justiça.