Este é um ano de 2020 será difícil uma síntese histórica, dado aos efusivos acontecimentos em todas a áreas da vida. Mesmo assim, na riqueza da linguagem e graças a literatura poderíamos atribuir, com certa precisão, à tentativa de estabelecer a retrospectiva do que passamos somado ao que logo faremos quando, no recôndito dos nossos pensamentos, refletimos no que foi 2020.
E 2020 é um ano para relembramentos. E a palavra vem de um dos livros que nos apresenta Guimarães Rosa contada sua biografia pela filha que conviveu com aquele mestre de nossa literatura. Desse modo, nossa tentativa de qualificar o ano que se esvai é porque simplesmente esquecê-lo é também ignorar as lições que dele podemos apreender.
Da Pandemia às Eleições, das máscaras que nos cobriram os rostos à Olimpíada deixada para depois; na força dos avassaladores acontecimentos, 2020 é talvez o ano que nos faz lembrar que chegamos ao fim das soluções imediatas. Na cultura Ocidental, tínhamos sempre a ideia pronta, a receita do sucesso, a cura de quase todos os flagelos da humanidade até que o vírus chinês se espalhou, a comunidade científica ficou estarrecida e soubemos que não éramos dono do nosso destino como apregoava a pós-modernidade.
Daí que, resta-nos repensar nosso futuro mesmo diante um mar de incertezas tornado mais turvo pelo abalo na econômica mundial, que trouxe consigo perdas irreparáveis em todos os setores. Em nosso RN,, a Pandemia descredencia o propagado potencial turístico, que prescinde de articulação e investimentos para que não nos atrasemos ainda mais em relação a outros regiões. Também relembremos que o Estado deve promover a educação com fim, saúde público com esteio, o equilíbrio das contas públicas como objetivo primordial.
Na política é hora de relembrarmos que as eleições municipais confirmaram o dever cívico do cidadão que não se absteve mesmo enfrentando riscos, mas que o maior risco ainda é falta de transparência na apuração, fiscalização contra a compra de voto – o que deve provocar no TSE uma redefinição no modelo, considerado inexpugnável, mas nem tanto.
É o ano de relembramentos pela perda de milhares de vidas. Pessoas queridas que não podem ser esquecidas diante da tragédia confirmada pelos números estarrecedores. É o ano de relembramentos porque gente anônima e de um dever de consciência absurdo foi capaz de entrar nos leitos dos hospitais e enfrentar o vírus mortal.
Portanto, 2020 é ano de relembramentos porque a vida é tão efêmera que todos devem contribuir para que o outro não seja o estranho e que vidas importam independentemente da classe social, raça, cor e credo. É um ano de se buscar o aprendizado pelo convívio social, da harmonia e do controle de nossas ações e emoções, mesmo que fiquemos em casa ou saíamos a rua. Porque a construção de um mundo melhor, de um ano novo melhor, dependerá tenazmente de ideias, dependerá de valores universais, entre os quais o respeito a vida, ao próximo, ao meio ambiente e as nossas diferenças. Dependerá, enfim, de mundo menos individualista e desigual. Do homem menos soberbo e mais solidário. Isso deve-se sempre estar em pauta, isso deve ser lembrado e relembrado.
Por Silvio Menezes
Jornalista e advogado